Em silêncio, diretor da Precisa reforça crimes no Ministério da Saúde

Empresário Danilo Trento depõe na CPI da Covid - Foto: Agência Senado

Diretor-Institucional. Assim o empresário Danilo Trento definiu aos senadores da CPI da Covid, na oitiva desta quinta-feira (23), suas atribuições na Precisa Medicamentos. A empresa está no centro de uma maracutaia montada para aplicação de um golpe dentro do Ministério Saúde, com a participação do alto escalão do governo Bolsonaro, na venda de R$ 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, ao preço de R$ 1,6 bilhão. Por suas ligações com personagens próximos a Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, como o advogado Marcos Tolentino e o dono da Precisa, Francisco Maximiano, além da própria família Bolsonaro, Trento é apontado como peça-chave no esquema. Além de não explicar exatamente seu papel na Precisa, o empresário também não esclareceu as atividades de sua outra empresa, a Primarcial Holding e Participações, suspeita de operar um engenhoso esquema de lavagem de dinheiro.

Mais um personagem da CPI amparado por habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Trento abusou do direito de ficar calado. Quando falou, parecia estar debochando dos parlamentares. Sobre a Precisa, disse que desenvolve “atividades institucionais junto aos órgãos institucionais”. Ele declarou ainda que “institucionalmente com empresas privadas [tem o papel de] representar a empresa desta forma”. O silêncio que permeou o depoimento levou a comissão a aprovar a quebra dos sigilos telefônico, telemático e bancário do lobista. A Primarcial tem o mesmo endereço das empresas de Maximiano, em São Paulo.

Os senadores suspeitam que a agência de turismo Barão Tur serviu de suporte para um esquema de lavagem de dinheiro. Tanto a Precisa quanto a empresa de Trento, Primarcial, fizeram transferências para a agência. “As transferências seguem uma rotina e começam a aumentar em dezembro [de 2020], dias depois da primeira reunião entre a Precisa e o Ministério da Saúde”, sugeriu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Ele ressaltou ainda que os repasses em fevereiro de 2021, quando a Precisa Medicamentos assinou o contrato da vacina, foram maiores do que a soma de todas as transferências no ano anterior. Depois disso, a Barão Tur abriu uma offshore nos EUA.

Outra empresa, de nome Elite Participações, também aparece no fluxograma de transações organizado pela CPI. A empresa, que recebeu transferências da Primarcial, repassou milhões a quatro panificadoras e, depois os recursos teriam voltado para a Primarcial. Há também repasses vultosos para a WFQ, empresa investigada pela Polícia Federal por suposta participação em tráfico de drogas e criptolavagem.

Também há o registro de transferências entre a empresa de Maximiano Xis Internet Fibra, e a Primarcial. A Xis obteve auxílio de ninguém menos que o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que conseguiu uma audiência com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, no dia 13 de outubro, para tratar de um financiamento à empresa do dono da Precisa.

Relações com a família Bolsonaro

As ligações de Trento com a família Bolsonaro também foram abordadas pelos senadores na oitiva. Aos parlamentares, o empresário admitiu conhecer Flávio Bolsonaro, com quem disse ter se encontrado em eventos públicos. Exposto em uma conversa com o lobista Marconny Faria, envolvido na fraude na licitação para compras de testes na Saúde, Trento diz no diálogo que “Eduardo me conhece”, referência a Eduardo Bolsonaro. Diante dos fatos, o senador negou conhecer o deputado federal.

O senador Humberto Costa (PT-PE) questionou qual a relação de parlamentares com empresário, mas ele se negou a falar sobre o assunto. O senador também quis saber se Ricardo Barros abriu caminho para Trento no Ministério da Saúde e quem o acompanhou em uma viagem para Las Vegas, nos EUA, no início de 2020. Trento confirmou a viagem mas não detalhou companhias e disse não se lembrar nem da data.

“O senhor Trento foi aos EUA para tratar de um assunto que tem muita gente interessada nesse governo, que é trazer a jogatina ao Brasil, que é uma forma boa de fazer lavagem de dinheiro, de sonegar imposto e de dar espaço para o crime organizado”, apontou Costa. “A máfia americana que existe em Las Vegas tomaria conta desse negócio grande e as milícias de hoje continuariam tomando conta dos negócios pequenos”.

Coincidentemente, o senador Flávio Bolsonaro participou de uma viagem oficial pelo Senado para Vegas e outra para Miami, no mesmo período. As viagens custaram cerca de R$ 21 mil em diárias pagas pelo Senado.

Costa também identificou a presença do empresário na viagem à Índia, com diretores da Precisa e outros envolvidos no esquema de fraude no Ministério da Saúde para acelerar a aquisição da vacina Covaxin. Ele quis saber informações sobre o contrato entre a Precisa, que iria intermediar a venda, e o laboratório Bharat Biotech, responsável pela fabricação dos imunizantes. Mas ouviu apenas o mantra, repetido à exaustão: “Vou me reservar o direito ao silêncio”.

 

Da Agência PT de Notícias

 

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