Em audiência na Câmara, empregados da Caixa exigem punição de Pedro Guimarães em caso de assédio sexual

A deputada Erika Kokay (PT-DF) coordenou o debate - Foto Gabriel Paiva

Empregados da Caixa Econômica Federal lotaram o plenário da Comissão do Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira (18), para exigir a punição do ex-presidente da instituição, Pedro Guimarães, e de outros altos dirigentes do banco envolvidos em casos de assédio sexual contra funcionárias. Durante a audiência pública que debateu o assunto, de iniciativa da deputada Erika Kokay (PT-DF), foi lembrado que em 161 anos da instituição casos de assédio sexual praticados por dirigentes da Caixa ocorreram somente no período do atual governo Bolsonaro.

A revelação dos casos de assédio sexual culminou na queda de Pedro Guimarães da presidência Caixa em junho passado, e as denúncias já estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal. Somente o ex-presidente da Caixa responde por 14 acusações de assédio. Para a deputada Erika Kokay, que também presidiu a reunião, é preciso que os autores dessas violências sejam punidos exemplarmente e que a instituição apresente mecanismos para evitar que novos casos ocorram.

“Queremos discutir a apuração desse escândalo e mecanismos de prevenção de casos de assédio sexual para que nunca mais ocorram. Temos relatos de que mulheres vítimas de assédio procuraram canais internos de denúncia e que nada foi feito. Queremos responsabilização de todos os envolvidos, porque sabemos que para terem existido tantas denúncias é porque existia uma rede de proteção aos criminosos para que não respondessem internamente pelos seus crimes”, acusou a parlamentar.

Erika Kokay lembrou que, desde o início do governo Bolsonaro, houve uma escalada no número de denúncias de casos de assédio sexual contra empregadas da Caixa. Em 2017, por exemplo, ocorreram 3 denúncias. Já em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, aumentou para 20 casos. Em 2021 esse número chegou a 64 e, em 2022, alcançou 77 denúncias.

Para a subprocuradora-geral da República aposentada, Deborah Duprat, os casos de assédio sexual da Caixa contra empregadas da instituição demonstram muito “o caráter autoritário do atual presidente e a forma subalterna como ele sempre se referiu as mulheres”. “Por isso esse movimento dos trabalhadores e trabalhadoras da Caixa é muito importante para lembrarmos desses casos e exigirmos que eles nunca mais ocorram”, disse

“Assédio Sexual é Crime”

Em meio a dezenas de empregadas que vestiam camisas com os dizeres “Mulher Bancária, Não Irão Nos Calar” e portando cartazes que diziam “Assédio Sexual é Crime”, a representante eleita dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, declarou que chegou a sofreu represálias por insistir na apuração interna das denúncias.

“Os casos de assédio só ocorreram por falhas na política (de prevenção) do próprio banco. Desde abril deste ano pedi que fossem adotadas ações internas para proteger as vítimas e para apurar as denúncias e punir os envolvidos. Porém, em consequência disso passei pela abertura de três processos internos questionando a minha independência e legitimidade em representar os empregados da Caixa no Conselho de Administração. Inclusive fui pressionada a não falar com a imprensa sobre esses casos, o que obviamente fiz”, disse Rita Serrano.

Consequências físicas e psicológicas 

Ao falar sobre os casos de assédio sexual, o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sérgio Takemoto, relatou que pesquisa recente feita pela entidade com 3 mil questionários aplicados demonstrou que 6 em cada 10 empregados do banco já tinham sido vítimas de algum tipo de assédio (sexual ou moral) no trabalho.

“Isso (os assédios) resultam em afastamentos ou até mesmo em tratamento psiquiátrico. Essas práticas estão fazendo mal aos trabalhadores da Caixa. Por isso exigimos que isso não passe em branco, em respeito às mulheres e aos demais empregados da instituição”, afirmou.

Representando o Ministério Público do Trabalho, a procuradora Melícia Mesel disse que a punição nesse caso precisa ser exemplar para evitar o sentimento de impunidade que desestimula as vítimas a denunciarem seus agressores.

“As vítimas nem sempre denunciam porque temem perder seus empregos ou serem revitimizadas pela culpa que sempre recai sobre a mulher nesse tipo de violência. Por vezes as mulheres também evitam denunciar porque simplesmente não acreditam no sistema de justiça ou porque não se sentem acolhidas quando fazem a denúncia. É importante denunciar, porque sempre quando isso corre outras mulheres também se sentem encorajadas a também denunciar seus agressores”, destacou.

Coragem para denunciar

Vítima de assédio na Caixa, Carolina Lacerda Tostes, empregada do banco, disse por meio de participação remota que foi difícil adquirir coragem para denunciar a violência que sofreu.

“Soube de casos ainda mais graves que o meu. Ouvi de colegas minhas, durante o período de trabalho remoto, em que foi pedido que levantassem da cadeira para ver se estavam de biquíni. Graças a Deus tive o apoio do meu marido e da minha mãe para fazer a denúncia. Porém, não é fácil denunciar, pelo medo da exposição pessoal e da família”, argumentou.

Já a representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes, também orientou as trabalhadoras por meio de participação remota que o assédio precisa ser denunciado em todas as suas formas.

“Ainda que seja uma piadinha (de cunho sexual), ou mesmo encostar em uma mulher sem o consentimento dela, já pode ser classificado como assédio. Isso precisa ser dito dentro dos bancos”, afirmou.

Convidados para participarem da audiência, o presidente do Conselho de Administração da Caixa, Rogério Bimbi, e o representante da Federação Brasileira de Bancos, Adalto Duarte, não justificaram suas ausências.

Também participaram da reunião a ex-presidenta da Caixa nos governos do PT, Maria Fernanda Ramos Coelho; o presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Kleyton Morais; e o presidente do Sindicato dos Empregados em Clubes e similares (Sindclubes-DF), Arnaldo Oliveira.

 

Héber Carvalho

 

 

 

 

 

 

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