“É uma tentativa de golpe contra a democracia”. Assim reagiu o deputado Dr. Rosinha (PT-PR) à aprovação inesperada pela Câmara de Deputados do Paraguai para iniciar o processo de impeachment contra o presidente Fernando Lugo.
O pedido, aprovado hoje, é justificado pelo papel do presidente Lugo em uma reintegração violenta de posse de terra na última sexta-feira (16). Os confrontos entre policiais e sem-terra deixaram ao menos 17 mortos em uma reserva florestal perto da fronteira com o Brasil.
Na avaliação do deputado Dr. Rosinha a violência na ação, que envolveu também fazendeiros da região, foi orquestrada para servir de “fachada” para a tentativa de golpe. “Afirmo com certeza que foi tudo planejado pela direita e pelos militares do Paraguai, que não assimilaram a democracia recém-instituída naquele país”, enfatizou.
Dr. Rosinha disse que, como parlamentar integrante do Parlamento do Mercosul (Parlasul), se solidarizava com o presidente Lugo. “Não reconheceremos o golpe e, caso o Parlamento Paraguaio insista no impeachment, serei o primeiro a entrar com um pedido de exclusão do país do Mercosul até que se resolva o impasse e a democracia seja restabelecida”, afirmou.
A tentativa de golpe no Paraguai, de acordo com Dr. Rosinha, será ponto de pauta da primeira sessão do ano do Parlasul, prevista para o dia 2 de julho, em Montevidéu (Uruguai). O petista destacou que o presidente Lugo vem fazendo um bom governo, priorizando o Estado de direito, construindo um novo caminho de desenvolvimento. “Não tem qualquer justificativa para esse golpe, a não ser o inconformismo da elite paraguaia”, acrescentou.
Sem renúncia – O presidente Lugo, em discurso nesta quinta-feira (21), descartou deixar o poder. Ele disse que vai enfrentar o julgamento. “Não renunciarei ao cargo para o qual fui eleito pelo voto popular. Não interromperei um processo democrático e me submeterei ao processo político, como mandam as leis paraguaias, com todas as suas consequências, como indica a Constituição paraguaia”, afirmou o presidente em pronunciamento à nação no palácio de governo. “Não existe nenhuma causa válida, nem política, nem jurídica, que me faça renunciar a esse juramento”, acrescentou.
A votação – A câmara controlada pela oposição aprovou o julgamento por impeachment com 73 votos a favor e um contra, após rápida discussão sobre a instalação do processo político, parlamentares argumentaram que Lugo era o responsável pelas mortes. A moção agora vai para o Senado que também é controlado pela oposição, onde o julgamento será realizado se aprovado.
O presidente Lugo, um ex-bispo católico ligado a movimentos sociais, tornou-se em 2008 o primeiro presidente a quebrar a hegemonia de seis décadas do Partido Colorado no poder, incluindo os 35 anos do regime militar comandado por Alfredo Stroessner (1954-1989). Eleito pelas promessas de defender as necessidades dos pobres, ele tem tido dificuldades para levar sua agenda de reformas por conta da influência da oposição no Congresso.
Unasul – A União das Nações Sul-americanas (Unasul) reuniu-se em caráter de urgência no Rio de Janeiro para analisar a situação de Lugo paralelamente à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. “Nós na Unasul defendemos a democracia e essa posição é fixa e não negociável”, afirmou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
Vânia Rodrigues, com agências