Por quatro anos, as notórias estultices de Jair Bolsonaro – figura imprópria para o trato diplomático, como já se reconhece – desgastaram gravemente a imagem do Brasil no exterior. Mas desde que o extremista de direita deixou o cargo mais relevante da República, o país caminhou firme para superar a condição de pária global, efeito da política externa profissional praticada pelo governo Lula e da reorientação das políticas ambientais. Em 2024, a liderança do presidente elevou o país ao protagonismo que lhe cabe no cenário internacional, mais particularmente durante a Cúpula do G20, sediada no Rio de Janeiro, em novembro.
Sucesso absoluto da diplomacia brasileira, as reuniões com os chefes das maiores economias do mundo ocorreram entre 18 e 19 do mês passado, quando foi selada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. A iniciativa de vanguarda do governo Lula consolidou-se como uma das bandeiras mais cruciais encampadas pelo Brasil na presidência rotativa do G20. O prestígio do presidente conseguiu a adesão de 82 países ao pacto e a sinalização clara para um futuro de maior cooperação internacional.
“Nós nos reunimos no berço da Agenda de Desenvolvimento Sustentável para reafirmar o nosso compromisso de construir um mundo justo e um planeta sustentável, sem deixar ninguém para trás”, afirma trecho da declaração final dos líderes do G20. “O mundo requer não apenas ações urgentes, mas medidas socialmente justas, ambientalmente sustentáveis e economicamente sólidas. Por esse motivo, nós trabalhamos em 2024 sob o lema ‘Construindo um mundo justo e um planeta sustentável’, colocando a desigualdade, em todas as suas dimensões, no centro da agenda do G20.”
Do negacionismo à recuperação da Amazônia
O negacionismo ambiental de Bolsonaro legou prejuízos incomensuráveis ao país. Já no segundo ano de governo, os desmatamentos sem precedentes endossados por seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, levaram a Noruega a suspender o repasse de recursos ao Fundo Amazônia. Os noruegueses congelaram R$ 133 milhões.
Em 2021, enquanto os alertas de emergência climática explodiam em todo o mundo, o capitão participava das insólitas “motociatas”, para que seus apoiadores, negligentes em relação ao aquecimento global e ao efeito estufa assim como o próprio Bolsonaro, despejassem gás carbônico no meio ambiente.
“O governo Bolsonaro apresenta um transtorno de déficit de natureza. Isso não se restringe à falta de valores ambientais. Desde o início de sua gestão, assistimos a uma inexplicável simpatia por interesses degradadores do agronegócio, da grilagem, do garimpo e da extração de madeira – e que vem devastando a Floresta Amazônica”, observou o jornal francês Le Monde Diplomatique, à época.
Com Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia cresceu 150%, a pior marca já registrada pelo sistema Imazon. Entre 2019 e 2022, foram derrubados 35.193 km² de área verde. A extensão do desflorestamento é maior que os estados de Sergipe e Alagoas juntos. A tendência desastrosa começa a ser revertida por Lula. Em 2023, a destruição da floresta tropical foi a menor em cinco anos, 10.573 km², graças às medidas adotadas em prol da transição ecológica.
No Rio de Janeiro, a declaração final do G20 obteve o compromisso dos países com emissões líquidas globais zero de gases que causam o efeito estufa até a metade deste século. A estratégia do bloco é acelerar as ações climáticas, priorizando o desenvolvimento sustentável e a erradicação da fome e da pobreza.
Nova ordem multipolar
Bolsonaro também sempre se provou caudatário dos Estados Unidos e incapaz de qualquer defesa dos mais sensíveis interesses nacionais. Em uma das reuniões importantes de chefes de Estado de que participou, o capitão da extrema direita chegou a dirigir um “I love you” ao magnata republicano Donald Trump, que será novamente presidente a partir de 2025.
Em sentido contrário aos ideais e às condutas bolsonaristas, o governo brasileiro propôs a reforma da governança global à Cúpula do G20. Motivo: o modelo não reflete a atual multipolaridade geopolítica. Prova disso são as guerras no leste da Europa e no Oriente Médio, ambas com o engajamento expressivo de Washington. Em seus discursos, Lula tem pregado a paz na Ucrânia e em Gaza, conforme consta na declaração final referendada pelos países do bloco sob a presidência do Brasil.
“Reivindicamos uma composição ampliada do Conselho de Segurança [da ONU] que melhore a representação das regiões e grupos sub-representados e não representados, como a África, Ásia-Pacífico e América Latina e Caribe”, pede o documento.
A nova ordem multipolar e a natural liderança brasileira entre os países do Sul-Global estão refletidas no Brics, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, inicialmente, mas que foi ampliado para receber novos parceiros e hoje detém Produto Interno Bruto (PIB) superior ao de Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Itália, Alemanha e Japão juntos, o chamado G7.
Em 2025, o Brasil assume a presidência do Brics, seis anos depois de ter ocupado o posto pela última vez. Temas debatidos no G20, como a reforma da governança global e a transição ecológica, serão novamente trazidos à mesa de discussões.
Mercosul
O prestígio e as habilidades diplomáticas do presidente Lula também foram fundamentais para o histórico acordo entre o Mercosul e a União Europeia, selado recentemente após 25 anos de negociações.
O documento foi finalizado e anunciado durante a 65ª Cúpula do Mercosul em Montevidéu, Uruguai, na presença dos presidentes Lula, Santiago Peña do Paraguai, Luis Lacalle Pou do Uruguai, Javier Milei da Argentina, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen. A conclusão do tratado marca uma vitória significativa para os países sul-americanos, com o Brasil desempenhando um papel de liderança na parceria estratégica.
O acordo redefine a relação comercial entre o Mercosul e a União Europeia, elevando-a a novos patamares diplomáticos e econômicos. Ele criará um mercado comum que abrange mais de 700 milhões de pessoas, com um PIB combinado de US$ 22,3 trilhões.
Por PT Nacional